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lundi 8 septembre 2008

Manuela acusa controlo socialista

Quarenta dias depois, a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, quebrou ontem o silêncio a partir de Castelo de Vide para atacar o Governo. Sem revelar propostas concretas, a presidente social-democrata optou por fazer um balanço do mandato governamental: um Executivo com "resultados medíocres" e que cria um "clima de mistificação só possível porque está apoiado numa máquina de comunicação e de acção pouco democrática".
Esta síntese arrebatou a plateia de jovens da Universidade de Verão da JSD. Depois, foi mais longe: 'Há uma impressionante máquina socialista que controla, que persegue, que corta apoios, que gere favores.' Perante o cenário, a líder do PSD quer 'libertar o País e as instituições do sectarismo partidário'.
A análise de Ferreira Leite não se ficou por aqui. No entender da líder do PSD houve 'retrocesso' na Administração Pública e na Segurança Interna o 'Governo falhou perigosamente'. Não reiterou o pedido de demissão de Rui Pereira, mas. Porém, questionou-se: 'Como é possível que o ministro da Administração Interna admita que se organize uma operação policial destinada a passar em directo na televisão escolhendo o terreno tristemente emblemático de bairros problemáticos?' Por fim, foi no capítulo da política económica que surgiu uma promessa: reduzir a fiscalidade ligada à criação de emprego pelas pequenas e médias empresas. Ao partido, pediu empenho para ganhar eleições.
DIAGNÓSTICOS POR SECTOR
Educação
A líder do PSD considera que a confiança na qualidade e exigência do sistema educativo 'não melhorou' e que a autoridade e prestígio dos professores é alvo de um ataque sem precedentes.
Saúde
Aqui 'as políticas mudam com os ministros', refere Ferreira Leite, com o Serviço Nacional de Saúde a sofrer 'uma sangria de médicos e pessoal qualificado' cuja prova são as rupturas nos serviços centrais.
Agricultura
As queixas e as dificuldades causadas por 'políticas erradas e surdas aos apelos [são] caladas com o estrangulamento financeiro e premeditado das associações representativas do sector'.
Justiça
As promessas de melhorar a Justiça 'redundaram na confusão no sector', garante a líder do PSD, que considera estar presente um 'sentimento de que também a Justiça é impotente perante as injustiças'.
... E DESAFIOS NO PLENÁRIO
Segurança
O debate sobre a Lei de Segurança Interna, promulgada por Cavaco Silva, vai ter o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, na mira das críticas do PSD, que exige a sua demissão.
Lei do Divórcio
A Comissão Permanente reúne-se amanhã para analisar os dois diplomas que foram alvo do veto presidencial: a Lei do Divórcio e o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, que o PSD votou contra.
Orçamento
O Orçamento do Estado para 2009 está na mira do PSD, que tem vindo a criticar a política económica do Governo. Ferreira Leite defende uma mudança de rumo ao nível dos investimentos.
Código laboral
A nova legislação laboral, para a qual Sócrates garantiu o acordo em concertação social, não reúne consenso, com críticas da CGTP e do socialista Manuel Alegre, que a consideram 'desfavorável'.
SANTOS SILVA CRITICA 'BOTA-ABAIXO'
Mal a líder do PSD terminou o discurso em Castelo de Vide, Governo e PS apressaram-se a reagir. O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, afirmou à TSF que a intervenção de Manuela Ferreira Leite foi 'um discurso do bota-abaixo', sem uma ideia para confrontar.
'É falso dizer que se perdeu postos de emprego com o actual Executivo', respondeu Augusto Santos Silva,insistindoquetambémé 'falso que a reforma da Administração Pública equivalha a qualquer espécie de controlo partidário'. Mais: 'Foi este Governo que reinstituiu os concursos para cargos de direcção na Administração Pública a nível de directores de serviço e chefes de divisão', sublinhou o também membro do secretariado nacional socialista, órgão executivo do partido.
AVISO PARA UM ESTADO VULNERÁVEL À CORRUPÇÃO
No longo discurso de 29 páginas a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, alertou ontem para o facto de o Estado poder ser 'muito vulnerável à corrupção, ao tráfico de influências e enriquecimento ilícito – fenómenos que devem ser eficazmente combatidos na sua expressão efectiva mas que devem sobretudo ser prevenidos com determinação e seriedade'.
Mais, a presidente laranja avisou que 'de pouco serve aprovar leis contra a corrupção quando a organização é caótica, instável e politizada'. A análise da dirigente converge com a intervenção da véspera do militante e professor universitário Pacheco Pereira.
Oex-eurodeputadoalertou para os negócios discutidos directamente entre os gabinetes ministeriaiseosgruposeconómicos, sem escrutínio parlamentar ou público.'Éumatendência muito perigosa. É um caldo de cultura que favorece a corrupção.Nãose sabe se são negócios em nome do interesse público, ou não. Se há favorecimentoou não', defendeu ainda José Pacheco Pereira, que pediu aos jovens para se empenharem seriamente no combate aos 'problemas de corrupção que, por razões estruturais, se vão colocar', e aos quais chamou de 'nova corrupção'.
REACÇÕES
Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
'Ainda hoje [ontem] foi dito pela principal responsável do PSD que em relação aos salários e às pensões: tenham paciência. Isto demonstra que há um bloco central. A líder do PSD não apresentou alternativas [...] Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. Não pode apresentar alternativas porque o PSD está a executar as mesmas políticas do PS para continuar a exploração dos trabalhadores.'
Fernando Ruas, Presidente da Câmara de Viseu
'Fiquei satisfeito. Achei que foi um discurso muito bem conseguido. [...] Houve tempo para o preparar. Mas ficaria ainda mais satisfeito com a intervenção da presidente do partido se tivesse havido uma palavra ao poder local. Só faltou uma palavra ao poder local. [...] Haverá eleições autárquicas [no próximo ano] e o PSD é o partido que tem maior número de câmaras.'
Guilherme Silva, Deputado
'Em minha opinião, acho que foi um excelente discurso de rentrée. A intervenção da presidente do partido, Manuela Ferreira Leite, conseguiu ser uma síntese. Falou aos militantes e fez uma reflexão profunda sobre o País. [...] Foi uma intervenção contundente, abordando as questões sociais [...] e as linhas programáticas alternativas por parte do PSD face ao PS que considero estarem adequadas.'
DN

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